Alude-se a uma mundivisão comummente aceite, atendendo à moral nas fábulas de La Fontaine. A observação conduz, contudo, a uma depreciação dessa mesma mundivisão, tida como deveras maniqueísta, demarcando as fronteiras entre o bem e o mal. Parte-se da fábula como veículo de transmissão de conhecimento, que destrinça o menos virtuoso dos modos humanos. De Esopo a Fedro, até La Fontaine, desenha-se uma linha de pensamento elaborado no Ocidente. Dessa fonte têm vindo a beber os de tenra idade, extraindo alguma lição moral. A questão a considerar prende-se com o fracasso, nesta organização social, do objectivo de impedir o desenvolvimento de “raposas” e “lobos” no seu seio, onde perniciosamente o matreiro é o bom da fita. O olhar prescrutador e desinteressado poderá observar-se e aos restantes como susceptíveis de metamorfose, incorporando as particularidades que os animais das fábulas tão bem exprimem.